Vesper visits the Canary Islands (in Portuguese)

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michaelebriant
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Vesper visits the Canary Islands (in Portuguese)

Post by michaelebriant »

Vesper. Verão 2008
Cruzeiro a Marrocos e às Canárias
Depois de no ano passado termos feito uma viagem costeira, à Galiza, a Ana e eu estávamos com vontade de fazer mar. Estávamos com saudades do Atlântico e da sua vaga larga, das longas tiradas de navegação, horas e dias sem ver terra, só nós os dois, o vento, o mar, o sol, as estrelas e o nosso barco.
Destino? Com apenas um mês de férias e vários cruzeiros já feitos aos Açores e à Madeira, decidimos variar e navegar até às Canárias, onde nunca tínhamos ido, nem de avião.
Contudo havia que planear bem a viagem. Apesar do Vesper ser um catamaran invulgarmente confortável, não gostamos de ir para o mar para sofrer. Isto são férias, a tripulação reduzida, e a navegação em cruzeiro tem que ser uma coisa agradável, repousante e divertida! Dizem os ingleses: os cavalheiros não navegam à bolina…
A viagem às Canárias, ida e volta num mês não é fácil, não tanto pela distância (de Lisboa a Las Palmas de Grande Canária são pouco mais de 700 milhas) mas principalmente pelo regresso. Estudando as “Pilot Charts” do Atlântico é fácil ver que na zona de navegação considerada e nos meses de Julho e Agosto, nos quais iríamos navegar, os ventos e as correntes são com enorme predominância (mais de 95%) de N/NE, sendo altamente desaconselhável o regresso directo ou ao longo da costa africana. O ideal seria navegar das Canárias para os Açores (de Tenerife a São Miguel são cerca de 720 milhas) para encontrar ventos de NW e daí para o continente, mas isso não era compatível com a duração das nossas férias.
Por outro lado, esta era uma boa oportunidade de fazer um pouco de turismo com umas escalas em Marrocos e assim “partir” em tiradas mais curtas a travessia para as Canárias. Decidimos assim que a viagem para as Canárias seria ao longo da costa africana, com escalas em Marrocos e o regresso pela Madeira, ainda que tendo que aceitar uma tirada dura contra o vento, de Tenerife para a Madeira e depois o sempre ingrato regresso ao continente.
Assim a 19 de Julho, Sábado, pelas 20h, com uma brisa do Norte, largamos da Doca do Espanhol, com destino à nossa primeira escala, Sagres. Esta primeira tirada de 115 milhas que devia ser feita debaixo de uma boa nortada (e eu bem queria, para ver a barca a andar…) não foi. Umas 4 horas de bom vento por alturas do Espichel, e o resto com ventos fracos de W. Navegação à vela e a motor (só com um motor para poupar gasóleo). Mar chão. Média de 5,7 nós, que é fraco. A meio da tarde de Domingo 20 estávamos fundeados na Enseada da Mareta, Sagres, onde passamos uma noite tranquila.
Segunda 21, 7 h da manhã, levantamos ferro e largamos para Rabat. 205 milhas. Spi (assimétrico) em cima desde as 8h às 21h. Piloto automático. Vento fresco de Norte. Mar sem ondulação, mas com vaga de vento. Velocidades entre os 9 e os 12 nós. Navegação gloriosa! Um dos melhores dias de vela da minha vida. O Vesper é um barcalhão! Apesar da velocidade e da mareação de popa a Ana ainda fez costura (foi preciso cozer a bainha da bandeira porque a nacionalidade não se aguentava içada…) e as respectivas refeições quentes, e requintadas, claro. Muita leitura. Pesca nada, íamos mais depressa que os peixes…
Incidentes? Claro, nestas condições há sempre. Uma cambadela involuntária e vigorosa partiu uma manilha da arreigada da retranca e encostou-a aos brandais. Não gostei e ralhei com o piloto automático. Na oficina de bordo resolveu-se o problema facilmente. Mas por causa disto o barco deu uma guinada violenta e o Spi fez um nó à volta da genoa, que estava enrolada. Foi um sarilho mas lá se safou a situação.
Durante a tarde cruzamo-nos ao longe com uma lancha voadora, cinzenta, que navegava rumo a Portugal a alta velocidade (35/40 nós?). Batia na vaga como uma louca. Seria droga?
Ao cair da noite arriamos o spi, por prudência, e o vento também foi caindo e rondou para NW, ficando à popa arrasada. Acabamos por ligar o motor de EB para manter a velocidade num mínimo de 6 nós.
Já na noite de terça-feira 22, pelas 4h da manhã, avistei uma bóia com luz vermelha a piscar que deixei por BB a cerca de 500 ou 600 m, sem mais me preocupar com ela. Não sei o que era mas percebi depois que tinha amarrado um cabo de nylon, flutuante, muito grosso e muito comprido, que se estendia para SW e sobre o qual passamos. Eu estava dentro do barco, a preparar-me para dormitar os meus 15 minutos da ordem e só me apercebi quando ouvi um sonoro BANG e o hélice bloqueado. O motor, claro, parou instantaneamente. Ali ficamos a rebocar a bóia. Enrolamos velas e mesmo em árvore seca o barco rebocava a bóia a uma velocidade de 2 nós. Não tínhamos governo. Por momentos ainda pensei que tínhamos avaria no leme, mas não, era mesmo por estarmos presos e a rebocar a bóia. Com lanternas, víamos o cabo, 1 m abaixo da linha de água. Cor de laranja, grosso. A noite não era muito escura, apesar das nuvens encobrirem a lua cheia. Tínhamos que cortar o cabo. Não me apetecia ir ao banho. De noite e com vaga era perigoso. A Ana e eu, trabalhando cada um com o seu croque, conseguimos passar um cabo nosso por debaixo do outro e depois caça-lo com um molinete (e muito esforço, tal a tensão) um pouco acima da linha de água. Debruçado sobre a borda e com a Ana a agarrar-me pelo cinto (é por causa da barriguinha, que pesa…) lá consegui cortar o malfadado cabo.
Para grande surpresa, assim que cortamos o cabo, a bóia que se mantinha a cerca de 600 m, fugiu a grande velocidade. Tinha outro cabo do outro lado? Tinha alguma coisa suspensa? Seria um esconderijo de droga, ou já sou eu a romancear por causa da lancha voadora? Nunca viremos a saber.
Libertos, mas ainda com o hélice bloqueado com os restos do cabo, navegamos de vela. Arribamos a Rabat, sem mais incidentes, ao princípio da tarde, com uma média total de 7 nós apesar do muito tempo perdido com a história do cabo. Vejam lá com andamos bem durante o primeiro dia.
A Marina de Rabat é cerca de 1 milha a montante da foz do Rio Bou Regreg, estreito, baixo, mal balizado, com muitas embarcações miúdas, de pesca e recreio, e com dragagens em curso. E não tínhamos cartas de pormenor. Por isso preparei tudo para fundear logo que protegidos da vaga pelos molhes da barra, para mergulhar e tirar o cabo do hélice e recuperar a manobrabilidade total do barco que só com um motor manobra muito mal. Exactamente nessa altura apareceram dois mergulhadores marroquinos, numa semi-rígida, que nos vinham saudar. Claro, pedi-lhes logo para tirarem o cabo do hélice, o que foi feito em menos de 5 minutos. Nem cheguei a fundear! Ofereci-lhes uma garrafa de tinto Pasmados, mas não quiseram (Maomé não deixa) e pediram cigarros. Não havia danos no hélice e o motor pegou à primeira.
Entretanto apareceu outra semi-rígida para nos pilotar rio acima até à Marina, que é nova, moderna, dispõe de todas as facilidades e com pessoal muito simpático e eficiente. As autoridades, também simpáticas, são muito rigorosas e puseram-nos dois cães a bordo, para detectar droga e explosivos. Os cães deviam ser terráqueos, porque não tiraram os sapatos, nem os polícias, e a Ana ficou toda lixada porque sujaram o barco todo. Como estou a escrever isto, vocês podem concluir que não tínhamos droga nem explosivos…
O Rio Bou Regreg separa as cidades de Rabat e Salé, ligadas por uma ponte, com trânsito intenso, localizada imediatamente a montante da Marina. Toda a zona está em obras, num grandioso projecto de requalificação regional. Salé era antigamente famosa pelos seus corsários, que em rápidas embarcações de pano latino aterrorizavam a navegação da cabotagem, atacavam zonas costeiras do Algarve e Andaluzia, chegando a navegar até às costas americanas e inglesas. Seria de Salé a faluca que no dia 25 de Agosto de 1895 perseguiu e tentou a abordagem ao Spray de Slocum, sem o conseguir, porque desmastreou devido ao vento forte? Gosto de pensar que sim.
Rabat, capital de Marrocos, com 2 milhões de habitantes, é uma cidade interessantíssima, que bem merece uma visita. Desenvolve-se ao longo da margem sul do Bou Regreg, com a sua linda e bem asseada Kasbah (fortaleza) a dominar a entrada da barra e que alberga no seu interior um belo e rico bairro habitacional, de paredes pintadas a branco e azul. A Medina (cidade antiga) tem o pitoresco habitual das cidades marroquinas, um comércio tradicional vibrante e atraente, pleno de cor, de cheiros e de sons. O mausoléu de Mohammed V (obra prima da moderna arquitectura marroquina) e a Torre Hassan, de 1191, irmã da Giralda de Sevilha e da Koutobia de Marrakech, são visitas obrigatórias. A Torre Hassan sofreu graves danos por ocasião do “nosso” terramoto de Lisboa, em 1755.
Satisfeitas as necessidades turísticas da tripulação, e as necessidades consumistas (!!!) da co-skipper, largamos de Rabat na sexta-feira 25, rumo a Essauira, a antiga praça forte portuguesa de Mogador, a cerca de 225 milhas para SW. Saímos ao fim da tarde, com vento de popa, não muito forte. Noite calma, sem história. Já dia nascido, com mais vento, spi para cima e navegamos bem e rápido. Foi-se, entretanto, levantando mais vento e vaga e acabou por acontecer o que não devia. Numa embardadela maior o spi enrolou-se à volta da genoa, deu nó, e ao contrário da viagem anterior, não fomos capazes de resolver a situação.
Isto deu-se por volta do meio-dia. Depois foram cerca de 5 horas de luta ciclópica e inglória com a vela. Tentamos tudo. Sofremos a bom sofrer. Ficamos exaustos e com as mãos em sangue de tanto caçar e folgar cabos, nas mais variadas tentativas de desenrolar e arriar a vela, enquanto o vento, a vaga e a fadiga iam aumentando. No meio da confusão o tambor dum molinete, certamente mal apertado depois da revisão que lhe tinha feito, soltou-se, agarrado à alanta do spi e foi bater com violência no convés, fazendo estragos. Se nos acertava…nem sei. Consegui recupera-lo! No auge da confusão, tendo eu ligado ambos os motores, para estabilizar o barco por causa da forte vaga de popa, um deles, de EB, resolveu aquecer. Tocou o alarme da temperatura, fui ver, estava a 120º. Desliguei-o, claro. Mais tarde percebi que era apenas uma fuga de água no terminal dum tubo e reparei-o facilmente. Mas isso foi mais tarde, na altura, para ajudar à festa foi mais um factor de aflição. Nem disse à Ana, só horas depois lhe contei.
Fomos incapazes de arriar a vela. O melhor que conseguimos foi, com as adriças da manga do spi e da segunda genoa, dar-lhe umas voltas e ferra-la parcialmente. Mesmo assim era como estar permanentemente com meio spi em cima, mas sem controlo. E ficamos também sem genoa e só com um motor. Perto do fim da tarde o vento era cada vez mais rijo, felizmente sempre de popa, e a vaga respeitável. O barulho do spi a bater metia medo.
Decidimos, por isso, não rumar a Essauira mas sim a Agadir. Essauira é um porto de pesca, muito pequeno, que não conhecíamos, e que naquelas circunstâncias não era prudente demandar. Esta foi uma decisão sensata. Dias mais tarde, fomos num carro alugado a Essauira e constatamos que teria sido simplesmente impossível entrar. O porto, muito pequeno, estava completamente cheio de barcos de pesca, sem qualquer espaço de manobra. Além disso é uma zona tradicionalmente muito ventosa, considerado um “windsurfer paradise”.
Agadir, 75 milhas mais a sul, tem uma marina moderna, grande, numa baía abrigada. Só de vela grande e o pedaço de spi navegamos rápido durante toda a noite e manhã, sempre com muito mar de popa, particularmente ao largo do Cabo Sim. A meio da tarde de domingo 27, após 43 horas de navegação, entramos em Agadir, com o vento, finalmente, a amainar. Eu tinha entretanto resolvido o problema do aquecimento do motor e estávamos com a nossa capacidade de manobra reposta. A aproximação e a amarração correram bem, com muita pena dos imensos mirones que se juntaram e já esfregavam as mãos de contentes na esperança de ver um catamaram com meio spi em cima a partir-se todo nos pontões da marina...
Em Agadir houve muito que trabalhar. Subi ao mastro com ajuda de pessoal da marina, muito simpáticos e colaboradores e a trapalhada lá se resolveu. A Ana exigiu guardar o spi no saco, fechá-lo numa arca e deitar a chave ao mar…
Agadir, onde não tínhamos pensado ir, foi uma boa surpresa. Cidade moderna, ocidental, alegre e arejada, com belas praias, muito turismo e vida noturna, reconstruída depois do dramático terramoto de 1960 que a destruiu completamente. É o maior porto de pesca de sardinha de todo o mundo! A marina é segura, agradável e barata.
Alugamos um carro para ir a Essauira. O porto, como já disse, não tem condições mínimas para barcos de recreio, e não é agradável, tão sujo está. Mas é uma bela cidade, com óptimos restaurantes e uma extraordinária Medina, de arruamentos ortogonais, cheia de comércio, principalmente de trabalhos de madeira. A identificação da antiga fortaleza portuguesa, construída em 1508 por Diogo de Azambuja e abandonada em 1525 não é fácil. Desconheço porque a abandonaram mas deve ter sido porque não tinham pranchas de wind surf e com aquele vento todo a coisa não devia ser fácil para as nossas caravelas. Vêem-se muitos canhões portugueses nas ameias. Embora as cartas indiquem como fundeadouro a zona a sul do porto de pesca, parcialmente abrigada por uma pequena ilha, a verdade é que não havia barcos fundeados e com o vento fresco e a forte mareta, não se estaria nada confortável.
Repousada a tripulação e concluídas as investigações turísticas da ordem, incluindo um passeio ao deserto e a um oásis, largamos quarta-feira 30, de manhã, para Lanzarote, viagem de 225 milhas até Puerto de Naos. Viagem rápida e dura, com muita vaga e muito vento pela alheta e felizmente sem qualquer incidente. Pelas 18 h de quinta-feira 31 de Julho, debaixo de vento rijo de 35 nós e acelarações até 40 nós, entramos em Puerto de Las Naos, para constatarmos que não havia qualquer espaço livre para fundear ou amarrar. Acabamos por fundear num cantinho do porto comercial, nem desembarcamos e no dia seguinte, sexta-feira 1 de Agosto, navegamos cerca de 20 milhas até à Marina Rubicon, perto da Punta Papagayo, na costa sul da ilha.
Esta Marina é lindíssima, com uma bela arquitectura, e bastante barata. Obrigaram-me a baixar a semi-rígida dos turcos para não ultrapassar os 15 m e não pagar mais, mas como o bote ficou a flutuar à popa, pendurado pelos cabos dos turcos, ficou na mesma. Chinesices…
Lanzarote é uma pequena ilha extraordinária, que nos deixou deslumbrados. Bem faz o Saramago em lá viver. Uma paisagem vulcânica, fabulosa, e uma notável capacidade de integrar a construção (as antigas povoações e os actuais empreendimentos turísticos) na natureza, numa harmonia de formas, volumes e cor raramente conseguida. O famoso artista plástico Cesar Manrique (1919-1992), natural de Puerto de Naos, arquitecto, urbanista, pintor, escultor e ambientalista teve influência determinante sobre os poderes públicos na preservação deste equilíbrio difícil entre desenvolvimento e paisagem natural. A visita às suas obras, espalhadas pela ilha, com destaque para a sua própria residência, actualmente sede da Fundação com o seu nome, a visita ao Parque Natural do Timenfaya e ao seu vulcão foram os pontos altos desta nossa viagem.
A costa sul da ilha, entre a Punta Papagayo e a Punta Pechiguero , bem abrigada dos ventos dominantes, dispõe de muitos e bons fundeadouros e belas praias e pena tivemos de não poder ali ficar mais dias.
Sábado 2 de Agosto, pela 18 h largamos de Lanzarote e “despachamos” as 100 milhas para Las Palmas de Gran Canária em menos de 13 horas, deixando por BB a Ilha de Fuerteventura, com vento rijo de NNE e vaga respeitável mas não muito incómoda. Chegamos a Puerto de La Luz ao amanhecer. Aqui seria possível fundear bem abrigados e em local agradável, mas como nos apercebemos que estavam na marina os barcos da frota da Cruzeiro ANC à Macaronésia, fomos para lá, para as inevitáveis trocas de impressões. Eles iriam agora começar a parte violenta da sua viagem, navegando contra vento e mar tudo aquilo que nós tínhamos feito a favor…E sabemos agora, que lhes correu mal, mas não é disso que reza esta história.
Depois do nosso encanto com Lanzarote, a Gran Canária foi uma desilusão. Las Palmas é uma grande cidade e um porto movimentado, mas sem interesse de maior. A marina, muito grande e sem graça, estava a preparar-se para receber as centenas de barcos que anualmente aí se reúnem para a travessia do Atlântico no A.R.C. A ilha, embora de lindas paisagens, está muito estragada com empreendimentos turísticos massificados e por norma de qualidade duvidosa. Daquilo que vimos, excepção para o delicioso Puerto Mogan, na costa SW, com a sua bela marina com canais, num antigo porto de pescadores e onde vale a pena ficar uns dias. O interior da ilha, montanhoso e vulcânico, apesar de tudo vale a pena a visita.
Quarta-feira 6 de Agosto, pela manhã, saímos de Las Palmas para Santa Cruz de Tenerife. Navegação diurna, 55 m, vento fresco pelo través, alguma vaga, bela travessia. Intenso trânsito de navios e “ferrys” entre as ilhas. Os “ferrys”, muito rápidos, são os mesmos que vêm a Portimão. Ficamos na Marina Atlântico, bem no centro de Santa Cruz, que é uma bela cidade. Gostamos muito da ilha, de belas e contrastantes paisagens. Fomos ao El Teide, o pico mais alto de toda a Espanha, com quase 4000 m de altitude. Subimos num teleférico e demos um passeio lá em cima, numa extraordinária paisagem vulcânica, e sentimos bem o cansaço devido à falta de oxigenação.
Sábado 9, largamos de Santa Cruz de Tenerife para a Madeira, com a intenção de fazer uma escala de umas horas, fundeados nas Selvagens, para descansar. De Santa Cruz à Madeira (Marina da Quinta do Lorde) são 265 milhas contra mar e vento, por isso a escala nas Selvagens podia ser simpática. Afinal, cerca de 40 milhas ao norte de Tenerife, navegando à bolina cerrada, rebentou o punho da escota da vela grande. As costuras das cintas do punho estavam apodrecidas e cederam. Não era fácil reparar com os meios de bordo. Voltar para traz ou avançar a motor? Decidimos seguir para norte. Afinal de contas temos dois bons motores de 75 Cv cada. E lá fomos, a bater contra a vaga, mas a progredir bem. Acabamos por passar na Selvagens ainda de noite e com muito mar, o que me levou a desistir de fundear. Não conheço o sítio e aquilo no meio das rochas, à noite e com vaga não é coisa para brincadeiras. A Selvagem pequena nem farol tem.
Assim, rumo à Marina da Quinta do lorde, onde chegamos pela manhã de segunda-feira 11, após 48 h de viagem, satisfeitos por concluir a tirada teoricamente mais dura deste nosso cruzeiro. A marina localiza-se junto ao porto do Caniçal e está incluída num ”resort” ainda não terminado. É muito acolhedora e uma boa base para as inevitáveis visita à ilha. E tem normalmente lugares disponíveis, o que não acontece no Funchal.
Com os contactos do excelente “staff” da marina (olá Catia! olá Carlos! Olá Bruno!) apareceu um veleiro que coseu, e bem, o punho da vela. Aqui encontramos o catamaran “Exit” e a sua tripulação, da frota do cruzeiro ANC que tinham resolvido, e muito bem, não regressar ao continente por Marrocos mas sim pela Madeira. A marina estava muito movimentada com uma frota de cerca de 90 barcos franceses da regata Transquadra. É uma regata transatlântica por etapas, para 1 ou 2 tripulantes por barco, obrigatoriamente com mais de 40 anos. Houve uma festa, fomos convidados, e passamos uns bons momentos com a tripulação do Exit.
Por aqui ficamos uns dias a fazer turismo nesta bela ilha, actualmente muito facilitado graças à excelente rede de estradas e túneis que o Alberto tem vindo a fazer.
Sábado 16 de Agosto, com aceitável previsão meteorológica, saímos a meio da manha rumo a Portimão. Dois bordos que nos levaram a Porto Santo e quando nos preparávamos para o entediante e longo bordo para norte, a surpresa agradável da vaga diminuir muito. Rumo NNW durante cerca de 12 h, amurados por EB, e quando estávamos a uma latitude de 34º 09’, tentamos o bordo para o continente, que foi dando, com o rumo a melhorar progressivamente à medida que o vento ia rondando para NW, de forma que acabamos por fazer um bordo directo a Portimão.
Navegamos sempre com pouca vaga e pouco vento, tendo por vezes que ligar motor para manter a nossa habitual média de 7 nós. Vento a sério só nas proximidades do Cabo de S. Vicente. A bela nortada, de que não tínhamos muitas saudades, e que veio bruta, certamente para nos cumprimentar. Enfim, 75 horas depois de largarmos da Madeira estávamos fundeados em Ferragudo/Portimão.
Dias depois, sem vento e com mar chão, subimos para Lisboa. Feitas as contas no fim, navegamos neste nosso cruzeiro 2000 milhas. Tiramos a barriga de misérias!
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